COSMOVISÃO

Cada religião possui uma filosofia e pensamentos sobre como o Universo foi criado. A este sistema de fundamento e teoria dá-se o nome de Cosmogonia, o entendimento de mitos para melhor compreensão da causa primeira da Criação.

A filosofia cosmogônica se relaciona a forma como uma Tradição vê o Sagrado e explica a formação do universo e fundação do mundo, como entende as diferentes manifestações do Divino e como acredita que estas manifestações se expressam em nossas vidas.

Para as Tradições Diânicas de um modo geral a Deusa é a grande Criadora e é isso que difere nosso caminho Pagão de outros, que vêem a Criação como resultado da união de polaridades opostas e supostamente complementares.

Nós cultuamos a Grande Deusa da Natureza, em toda a sua diversidade resplandecente. Ela é a doadora da vida, a origem de toda existência neste planeta. Três são suas faces: Donzela, Mãe e Anciã, pois Ela é todas as Deusas e todas as mulheres. Ela se apresenta triplamente também na natureza como a Lua, o Sol e a Terra. Como a Lua, a Deusa é a Senhora dos Mistérios e Iniciação. Como o Sol, Ela é a Rainha dos Céus que fertiliza e dá calor e sustento. Como a Mãe Terra, Ela se torna aquela que nos alimenta se alimentando da vida, a Guardiã do Portal da Morte, que nos confortará quando a Ela retornarmos. Nós a honramos em todos os lugares, pois Ela é tudo: vive como nós, em cada um de nós e através de nós

Consideramos que o papel central e preponderante da Deusa é o diferencial de nossa religião. Cremos que celebrar o Sagrado masculino em igualdade com a Deusa é meramente um escape psicológico, para que uma mente completamente devastada por milênios de patriarcado se sinta menos culpada ao tentar incluir em sua prática religiosa o reconhecimento da energia feminina como Criadora.

A preponderância do culto à Deusa em uma Tradição não é decorrente de um desequilíbrio religioso, nem muito menos faz parte de um grupo separatista ou radical. Como uma Tradição matrifocal, acreditamos que existem muitas outras formas de polaridade que não sejam baseadas em gênero. Bruxos com cosmovisão orientada para a Deusa preferem identificar as polaridades não somente como feminina e masculina, mas como muitas outras: dia-noite, bem-mal, criação-destruição, escuro-claro, ordem-caos. Desta forma, masculino-feminino seria apenas uma das ilimitadas possibilidades de polaridades. E é desta forma inclusiva que entendemos a divisão de polaridades.

A escolha do culto centrado exclusivamente na Deusa provém do conforto que o Sagrado Feminino nos proporciona, pois a Deusa celebra a diversidade e não impõe limites. Acreditamos que isto é um fator primordial para o restabelecimento do equilíbrio do Universo e a cura do Planeta, devastado por séculos de opressão patriarcal e cultura patrilinear.

Em nossa Tradição a Deusa recebe muitas vezes o título de "A Dançarina" enquanto o Deus é chamado por nós de "O Condutor da Dança Espiral do Êxtase". Eles são simbolizados pela Lua e pelo Sol respectivamente, representando a eterna dança da Criação iniciada no início dos tempos pela Grande Mãe. Juntos Eles dançam através dos céus nos mostrando suas muitas faces e formas.

A Tradição Diânica Nemorensis é um ramo da Wicca centrado na Deusa e sua supremacia, relegando ao Deus um papel secundário com participação e atuação limitadas nos mitos e ritos. Para nós a Deusa é a grande Criadora de tudo e todos. Ela contém tudo o que tem vida e carrega em si inclusive seu complemento masculino, o Deus.

Reconhecemos o Deus e o honramos com prazer quando necessário. Porém, isso não significa que o celebramos em todos os rituais para aparentar um pseudo equilíbrio quando não sentimos que isso é necessário.

Além do mais, se reconhecemos que existem muitas outras formas de polaridades e a masculina/feminina é apenas uma delas, não se faz necessário invocar o masculino num ritual quando existem faces da Deusa que tragam em seus atributos a energia da força, guerra, independência que teoricamente seriam associados ao masculino se adotássemos a classificação de polaridades Yin-Yang tão tradicionais e convencionais.

Percebe-se assim que o Dianismo é não só fundamentado e equilibrado quanto igualitário, além de ser uma questão de opção e preferência pessoal a escolha de uma prática mais orientada à Deusa.

A escolha do caminho Wiccaniano centrado exclusivamente na Deusa, é tão válido quanto qualquer outro e tem sua beleza e expressão. Talvez hoje seja a modalidade de Wicca mais difundida no mundo. Isto possibilita às mulheres o resgate de sua dignidade religiosa como Sacerdotisas e aos homens a conscientização dos conceitos corrompidos, trazidos pelos valores e pensamentos patriarcais dominantes.

A Tradição Diânica dá às mulheres possibilidade de compreender as manifestações naturais que ocorrem nos seus próprios corpos como sagradas, ensinando-as que são cheias de poderes como a própria Deusa. Todos os praticantes de uma Tradição Diânica são orientados a ver a mulher como representante da Deusa na Terra, a quem devemos respeito e reverência. Afinal todos viemos ao mundo através do ventre de uma mulher e só isso já é o suficiente para nos mostrar o quanto elas são importantes.

O Dianismo também ensina os homens a ver a mulher como a própria Deusa encarnada, respeitá-la, perceber que ela não é um objeto, vê-la como alguém importante para que haja vida e para a continuidade da vida. Isso não desmerece um homem em nada, muito pelo contrário, pois se ele conseguir se libertar dos grilhões patriarcais e dar a mulher o seu devido valor será muito mais valorizado por ela.

O Dianismo, com sua cosmovisão matrifocal, pode ser enriquecedor para aqueles que poderão encontrar na Deusa a cura para muitos dos seus males trazidos pelos séculos de patriarcado, trazendo conforto e respostas para várias indagações alma humana.

Apesar da palavra "Diânica" se referir à uma divindade romana(Diana), este é apenas um dos muitos nomes da Deusa reconhecidos em nossa Tradição e não a única face Dela reverenciada por nós. Na realidade, a Deusa principal da Tradição Diânica Nemorensis é Danu, também chamada de Dana, cujo nome pode ser associado a Dione na Grécia e também Diana em Roma.


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